Fotografia
Não
era de guardar lembranças de sua vida, muito menos de possuir momentos
nostálgicos ao longo de todos aqueles anos. As lembranças simplesmente se
esvaíam do seu ser e da sua mente, tornando-se tão somente fatos aleatórios que
não lhe pertenciam mais.
Vivia
o presente. Guardava o passado às sete chaves. Tolerava o futuro incerto.
Não
lhe era uma característica eternizar um momento. Deixava-o passar, aproveitando
aquilo que lhe era oferecido.
Ninguém
poderia afirmar, sequer adivinhar, que ele possuísse apenas um objeto que
eternizara: uma fotografia.
A
única que tivera audácia e imprudência de tirar.
Uma
imagem... Guardada em seu guarda-roupa velho, no fundo das gavetas levemente
mofadas.
Fora
apenas o que conseguira dela: um retrato.
Não
imaginou que anos mais tarde sua mulher encontraria aquela velha lembrança.
Muito menos que não se sentiria traída ou humilhada. Ela o tivera a vida
inteira, enquanto ele só conseguira guardar parte da outra.
Levou
a gravura à própria dona. Bateu na porta e foi atendida.
-
Sim? – Atendeu uma mulher, sorrindo-lhe educadamente.
-
Acho que isso lhe pertence - foi sua única resposta.
A
outra aceitou o envelope sem dizer uma palavra. Retirou-se antes que pudesse
ser feita alguma pergunta.
A
que ficara abriu o envelope, incerta. Deparou-se com si mesma em seu tempo de
juventude.
Alguém
se aventurara a tirar um retrato atrás de algum esconderijo.
A
cena era uma das que havia ficado em sua memória: o enterro de sua mãe,
realizado durante um longo dia chuvoso.
Ela
jamais soube quem registrara aquele momento.
Entretanto,
ele sabia...
Sabia
que para ele, ela seria – para sempre – apenas uma fotografia.
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